
O surgimento da indústria cultural liga-se, de forma direta, à Revolução Industrial, com o fenômeno da industrialização, da economia de mercado, do capitalismo liberal e da indústria de consumo. Sua conceituação faz-se em analogia à da produção econômica com o uso de máquinas, a divisão do trabalho e a ideia da submissão da cultura ao mercado.
A relação entre indústria cultural e meios de comunicação de massa é feita, assim, quase de forma direta, embora essa associação não seja inseparável. Com o surgimento do rádio, do cinema e da televisão, a indústria cultural se consolida, fenômeno localizado no século XX, aumentando a separação entre a chamada cultura erudita e a cultura de massa. Os primeiros a utilizar tal conceito foram os teóricos da Escola de Frankfurt, a partir do pressuposto da função alienante da indústria cultural, ao retirar da cultura sua função de instrumento de crítica, expressão e conhecimento, tornando-a mercadoria consumível.
Enrique Saravia, em artigo sobre a indústria cultural, observa que no
texto editado pela Unesco em 1982, Indústrias Culturais: O Futuro da
Cultura em Jogo, o pesquisador Ari Anverre sustenta existir indústria
cultural quando os bens e serviços culturais se produzem, se reproduzem,
se conservam e se difundem segundo critérios industriais e comerciais.
Esses critérios obedeceriam à serialidade da produção e a uma estratégia
de tipo econômico, em lugar de uma finalidade de desenvolvimento
cultural. Saravia destaca, ainda, o papel democratizador da indústria
cultural na medida em que permite o acesso de produtos culturais a um
grande número de pessoas.
Para Paul Tolila, o surgimento e o desenvolvimento da indústria
cultural constituem um fenômeno de importância crucial pelos desafios
econômicos que representam e pelas questões que colocam tanto para os
meios culturais da criação como para as políticas públicas de cultura.
Segundo ele, nas últimas décadas, os fluxos internacionais de produtos
culturais tiveram um crescimento muito superior à grande maioria dos
setores econômicos, determinando novos desafios relacionados às
negociações internacionais. Apenas para exemplificar, as vendas
internacionais de produtos culturais representam o primeiro setor de
exportação dos Estados Unidos a partir de 1996.
Octavio Getino aponta que um dos principais desafios que os países da
América Latina enfrentam atualmente é atualizar e redefinir suas
políticas culturais nacionais, em razão do desenvolvimento integrado e
sustentável. As indústrias culturais ganham, assim, papel de destaque,
tornando-se primordial a criação de organismos e instituições que
coletem, sistematizem e analisem dados sobre a cultura e as indústrias
culturais. O Observatório de las Industrias Culturales de Buenos Aires,
do qual é coordenador, inscreve-se nessa iniciativa, concentrando-se nas
indústrias do complexo editorial (livros e publicações periódicas); do
complexo audiovisual (cinema, televisão, vídeo e novas tecnologias); do
complexo sonoro (rádio e fonogramas); e da publicidade.
Néstor Canclini aponta que com o processo de globalização os agentes
decisores da produção e distribuição da produção cultural são as
corporações transnacionais e não os estados nacionais. A expansão
econômica e comunicacional propiciada pelas indústrias culturais não
beneficia equitativamente todos os países e regiões. Da mesma forma,
apesar da predominância dos produtos norte-americanos, isso não
significa a americanização do mundo já que não é uniforme em todos os
campos. Em suas palavras, um desafio que se coloca hoje é como elaborar
políticas culturais que vinculem criativamente as indústrias culturais
com a esfera pública conforme a lógica da atual etapa da globalização e
das integrações regionais.
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